EMMANUEL LE ROY LADURIE (1929-2023)

Morre um dos maiores nomes da historiografia francesa

Hoje Emmanuel Le Roy Ladurie nos deixa…

O historiador nasceu em 19 de julho de 1929, formado pela École Normale Supérieure, defende seu doutorado na Universidade de Paris, sendo orientado por Fernand Braudel. A convivência com Braudel prontamente o aproxima da chamada Escola dos Annales. Aprovado no agrégation, passa a lecionar na Universidade de Montpellier, na École Pratique des Hautes Études, na Universidade de Paris e no Collège de France, onde ocupou a cátedra de história da civilização moderna entre 1973 e 1999, depois se tornando professor emérito nessa mesma instituição.

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Emmanuel Leroy Ladurie em participação do programa televisivo Apostrophes em Novembro de 1987

Le Roy Ladurie foi um dos importantes nomes em diversos campos da historiografia, como a história ambiental e a micro-história, além de ser um dos fundadores da chamada Nouvelle Histoire, ou a Nova História, movimento fundado por Jacques Le Goff e Pierre Nora durante os anos 1970 cujo objetivo era revitalizar a historiografia a partir de uma perspectiva da história das mentalidades, da antropologia histórica e da contranarrativa histórica.

Emmanuel Le Roy Ladurie: Breve bibliografia comentada

Sua tese de doutoramento, Les Paysans de Languedoc (Os Camponeses do Languedoc, em tradução livre), de 1966, busca entender as dinâmicas históricas do campesinato do Languedoc, macro-região histórica no sul da França, se focado tanto na longa duração quanto a história quantitativa do campesinato francês.

A obra de Le Roy Ladurie mais reconhecida, e provavelmente sua maior contribuição historiográfica, é Montaillou, Povoado Occitano de 1294 a 1324, uma dos estudos basilares da chamada micro-história, metodologia onde Le Roy Ladurie irá utilizar ao longo de sua bibliografia sobre os mais diversos objetos. No Montaillou, há um estudo sobre os processos inquisitoriais em um povoado na França meridional durante a chamada heresia cátara – tema inclusive de um episódio aqui do podcast.

Medievalissimo
Medievalissimo
Catarismo: Heresia e Utopia no Sul da França do Século XIII
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Para fazer tal estudo, o Montaillou utiliza uma vasta documentação, notoriamente os registros de interrogatórios do bispo Jacques Fournier, futuro papa Benedito XII. Fournier ocupou o inquisidor para os cátaros e conduziu o processo inquisitorial. O livro se tornou um sucesso, sendo traduzido para diversos idiomas, elevando o então desconhecido vilarejo de Montaillou a destino turístico prontamente.

Hoje, Montaillou é alvo de críticas principalmente porque se fia em uma documentação gerada a partir de pessoas que não se apresentaram espontaneamente para a Inquisição. Pessoas foram forçadas a testemunhar, ou seja, os depoimentos podem ter sido forjados, alterados ou mesmo falsificados. Dessa forma há uma ausência de um contraponto para os depoimentos colhidos por Fournier. Outra crítica ao Montaillou é o uso da tradução. A maioria dos depoentes falava em occitano, e os registros de Fournier são em latim e depois Le Roy Ladurie traduziu para o francês os mesmos documentos. Sobre o que se perdeu durante a tradução ainda é matéria de disputa.

Emmanuel Le Roy Ladurie e a História Pública

O Montaillou se tornou prontamente um dos livros mais vendidos, então alçando o historiador ao status de celebridade. Precisamos notar que a história é inegavelmente popular na França, por lá é comum historiadores se tornarem celebridades midiáticas, aparecendo em rádio, televisão e jornais. O próprio Le Roy Ladurie foi uma desses historiadores celebridades. Tendo escrito para diversos jornais, além de contribuições para o rádio e a televisão. Igualmente contribuindo para a divulgação histórica através de vasta bibliografia do que atualmente é chamado de história pública. Marnie Hughes-Warrington, historiadora australiana, em seu 50 Grandes Pensadores da História categoriza o assim historiador: um rock star entre os medievalistas.

Emmanuel Le Roy se debruçou ao longo da carreira sobre os mais diversos objetos, porém sempre fugindo de uma história monumental, buscando compreender a vida e o tempo do povo, do camponês, principalmente do sul francês. Região a qual, surpreendentemente, paixões são ainda despertadas, em seus sentidos mais plenos, em historiadores das mais variadas geografias.

Bibliografia Recomendada